Nos últimos dias tenho recebido vários emails dedicados à educação de crianças, desde tenra idade ao início da fase adulta.
Pretendem, esses emails, alertar à necessidade de dar uma "boa" formação/educação, desde a infância, às crianças.
Compreendo que há, em todos nós, preocupação por este tema. De uma correcta avaliação depende muito o futuro, para os que virão.
Quando somos pequenos, aprendemos desde logo a pensar, quando não, a dizer: - Quando for grande e tiver filhos, farei isto e não farei, aquilo. Serei e não serei, igual aos meus pais, ou aos pais dos outros.
Ou seja. Por comparação perante o que é a nossa dôr ou alegria, faremos ou não, diferente.
Quando somos pais, apercebemo-nos de algumas coisas, interessantes. Damos connosco a repetir coisas que nos fizeram, ou a fazer tudo para não fazermos, em jeito de conpensação, o que nos fizeram. E mais, exageramos.
É claro que procuramos um equilíbrio. Mas como o podemos nós ter? A nós disseram-nos, isto é certo (vs) isto é errado. Assim és bom (vs) assim és mau. Assim gosto de ti (vs) assim não gosto de ti. Assim apanhas (vs) assim dou-te um beijo, ou não to dou porque é o que é esperado que faças. ... ... ...
Desculpem lá! Mas querem que os vossos filhos sejam iguais a vós?
Ao adoptarmos uma linha de conduta formativa, estamos a educar as crianças no que PARA NÓS é, ou não, importante.
Valorizamos ou desvalorizamos. Apontamos. Ajuizamos. Criamos níveis de valor. Criticamos. Opinamos. FAZEMOS EXACTAMENTE O QUE OS NOSSOS PAIS, EDUCADORES E FORMADORES, NOS FIZERAM. A única diferença, é que (agora é a nossa vez, e) é segundo a nossa moral e juízos de valor.
A criança, não tem consciência. Tem sede de descoberta. E descobre segundo o seu próprio ritmo. Nós, porque temos pressa e nem por isso tempo, é que PARA NOSSA SEGURANÇA E BEM-ESTAR providenciamos uma formação DOS PERIGOS da vida, às crianças. Pretendendo ensinar-lhes, "coisas".
Continuamos a querer dar o melhor para que a criança seja "alguém" na vida e tenha, posses. Não para que seja, "o que é".
A criança procura seguir o exemplo dos adultos. Mas como explicar a uma criança que o que nós fazemos "é seguro"(?) mas se for ela a fazer já não o é?
A pergunta é. Porque é que eu faço "coisas" que põem em causa a vida de uma criança que não tem consciência do perigo? Do risco que corre do que vê aos pais, ou referências, fazer?
Andamos a distribuir "galhardetes" de (ir)responsabilidade uns aos outros e as crianças (principalmente as mais velhas) é que acabam por ficar com o "ónus"?
Porquê?
Para justificar o nosso, "NÃO QUERO OLHAR"?
Hoje em dia, ouve-se e vê-se cada vez mais falar em, pedagogias de educação para as crianças. Mas quando é que nós "ADULTOS(?)" deixamos de ser pessoas assustadas que vivem no medo de errar ou parecer bem? Até já temos cada vez menos filhos para não termos de preocuparmo-nos com eles. Somos cada vez mais egoístas e fechados em nós mesmos. Lidar com uma criança? "Tomara quem cuide de mim!".
Então refugiamo-nos atrás da nossa própria dôr. E passamos a nossa própria dôr, pelo susto ou medo que dela temos, aos nossos filhos. Na verdade somos nós, as crianças assustadas.
Assim, refugiamo-nos atrás de colégios, amas, centros pedagógicos, psicólogos e psiquiatras (estes agradecem), centros de ensino especial, escolas ou colégios "bons", de "boa" formação; procurando nada mais, do que sossegar o nosso íntimo. Inquieto. Acima de tudo porque, não temos tempo. Dinheiro. Disponibilidade, para os nossos filhos.
Entregamos e confiamos os nossos filhos ao que nos "outros" nos "parece", sólido. Seguro. Porque em nós, não é. E temos medo, de não o ser. Pior, é que digam que não somos bons pais, e vai daí, tiram-nos os filhos. etc. etc. etc. ...
Qual é de facto, a nossa maior surpresa e alegria para com os nossos filhos? Quando eles, per si mesmo revelam-nos, sem que lhes tivéssemos dito ou pedido, as descobertas últimas do dia. Principalmente quando os vemos erguerem-se, um dia, e darem os primeiros passos, sem ajuda ou sugestão nossa. Simplesmente, fazem-no! Quando damos às crianças, a possibilidade de descobrirem as coisas per si sem interferência "nossa", elas presenteiam-nos, diariamente. Deixar que seja a criança a mostrar-nos como é bonita uma flôr, uma côr, uma paisagem, o vôo do pássaro, um olhar pleno e cheio (até rebentar) de amor, as primeiras sílabas articuladas que elas fazem o favor de mostrar que já sabem, é pedir muito?
Mas temos medo de esperar demasiado tempo e de no tempo deles não descobrirem "aquilo" que a nós, nos mete medo. Esquecemos que ao fazer isso, iniciamos um processo inibidor que vai gerar neles, a necessidade de "desvendar", o que a nós nos mete medo. O resgate da dôr, nos pais, pelo amor dos filhos. O mesmo se assiste nos animais de estimação que temos em casa e que cuidamos como se fossem da família. Fazem tudo para nos compensar e se preciso fôr, até morrem.
Nas últimas sociedades, aínda "primitivas", assistimos ao desabrochar da criança pela alegria de estar viva e em contacto com a natureza. A sua descoberta é a descoberta da vida. Pela vida. O sorriso da surpresa e do espanto natural perante as manifestações que a vida apresenta. Não há certo nem errado. Há um contribuir, não para melhorar, mas para integrar. Não há pressas.
Há uma compreensão natural de que a vida é para ser vivida feliz e alegremente. Que cada membro, colabora, coopera e integra toda uma sociedade perfeitamente estruturada.Pacífica e tranquila.
Sempre que colocamos numa criança um "olhar" nosso, inibimo-a que desperte, o seu "próprio" olhar. Aquilo que não queriamos dos nossos pais, fazemos aos nossos filhos. Pelo nosso medo, tentamos proteger os nossos filhos. NÃO É PELO AMOR.
Enquanto uns crescem em liberdade e felizes, outros, procuram sistemas pedagógicos cada vez "mais seguros".
Quando o que necessitamos para viver em felicidade e liberdade, é, o que já esquecemos.
1 comentário:
Luis, lindo este texto, muito profundo e verdadeiro. Obrigado.
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